UMA VIAJEM AO BOLONGONGO


Quando faltavam menos de quatro dias para o fim de 2011, desloquei-me ao meu berço (Bolongongo), onde pude visitar os meus familiares, recordar os tempos da minha infância, rever os sítios onde brinquei com amigos, alguns ainda vivos e outros algures em cemitérios de distintas regiões deste país.

Fiquei estupefacto, a minha terra está a desenvolver-se, embora sejam ainda visíveis as marcas da guerra, quer no rosto das pessoas, quer nas infra-estruturas sociais.

As ruas estão agora asfaltadas, um grupo de chineses afectos à uma empresa de construção civil, está a reabilitar a Administração Municipal e o palácio, o Centro Recreativo de Bolongongo, ou seja, o nosso Cine, possui agora mobiliário moderno e a iluminação pública, dependente de um grupo gerador impede agora a juventude de se recolher cedo para a cama.

A água canalizada continua a jorrar pelas torneiras, mas os tubos de canalização que transporta o precioso líquido para os domicílios, revelam velhice, consubstanciado em frequntes rupturas que restringem o acesso e consumo deste bem indispensável.

Novos edifícios estão sendo construídos na zona centro da vila, nas imediações do antigo quartel das FAPLA, que segundo as autoridades locais, servirão para acomodar alguns quadros que trabalham no município.

Mas nem tudo agradou-me, não gostei de ver o estado actual da igreja católica, uma infra-estrutura em vias de degradação, circundada por capim, cuja porta frontal está destruída, pelo que fica desde já o meu singelo apelo aos responsáveis afins no sentido de inverterem a situação que se afigura como preocupante.

Entre outros, tive a oportunidade de voltar a rever alguns velhos que testemunharam os primeiros tempos da minha existência, o velho Augusto, um homem de muita experiência e que na década de 80 já possuia carro próprio, um Bedford que circulava livremente pelas ruas da vila, quiçá era o único meio de transporte existente na altura em Bolongongo, além de ser o proprietário de um quintal revestido de carcaças de veículos da era colonial em cujo portão podia se ler: CUIDADO COM O CÃO, em letras maiúsculas, tal como redigi aqui. O velho André Cacombe, enfermeiro de estatura baixa, vizinho da nossa casa, um ser humano de coragem comprovada, que se atraveu a ofender publicamente o Secretário da UNITA em pleno tempo de cativeiro, reagindo ao facto de sua filha (Zinha), uma jovem lindíssima carregando os seus bem conservados 18 anos de idade, fora escolhida por Nkossi Tunga, a fim de integrar um grupo de miúdas afectas a JURA, organização juvenil daquele partido, que se deslocaria ao Uíje numa suposta missão de serviço, mas que cheirava a exploração sexual. Velho Cacombe, detentor de uma fazenda de onde explorava bom maruvo de bordão, depois de se apreceber da situação, foi ao campo, engoliu bons copos e quando voltou à vila, gritou forçando os seus pulmões e com palavras lesivas contra Nkossi. É uma cena que ocorreu, não se trata de qualquer ficção, tive a oportunidade de assistir embora ainda adolescente e toda gente na altura pensara que aquele seria o último dia do velho Cacombe na terra. Sua família, prenhe de medo, refugiara-se na mata, mas o dia seguinte amanheceu e o homem estava vivo, tendo a filha se escapado do destino cruel.

Não poderia esquecer-me do velho Alfredo Umba, um cota pescador, de excelente robustez física, pescador artesanal de elevada perícia, através de presas que ele mesmo construia, com recurso a matéria-prima local, com o qual travei um diálogo sério e matamos a saudade.

A nossa terra está ficar boa!

Comentários

Anónimo disse…
Caro Gaspar, foi um prazer rever este novo e renovado Bolongongo. Mais fotografias, por favor. Um abraço. João Cabral
Teresa Pires disse…
como eu sinto tantas saudades da terra que me viu nascer se for possivel ponham mais fotos de BOLONGONGO eu morava perto do descasque na rua da ALDEIA onde ficava o tanque da água
Serafim Cucunana disse…
É com grande satisfação quando procuro me actualizar a cerca do meu município tenho logo informações do mesmo, coisas que não acontecia pelo menos três anos atrás. Espero que seja bom passo uma mudança visível aos munícipes, chegou a hora de todos darem o seu apoio a massa directiva especial a camada jovem, saberem se informar e informar com precisão quando for necessário ou quando são chamados para darem o seu contributo. Obrigado camarada Clinton meu administrador.