JUVENTUDE, CERVEJA E LEITURA


Nos anos de guerra civil que devastou a Nação angolana, raras vezes se via jovens envolvidos de forma maciça no consumo de bebidas alcoólicas, apesar do sofrimento que se vivia, fruto das vicissitudes próprias de um conflito armado.

Em contraste, nos dias que decorrem (tempos de paz), aumentou de forma considerável a taxa de alcoolismo no país, quer em zonas rurais assim como em zonas urbanas, atingindo cada vez mais jovens de tenra idade.

A semana de trabalho está cada vez mais encurtada, silenciosamente, além do fim-de-semana, os jovens, apoiados pelas casas de diversão (discotecas, restaurantes, etc.), inventaram nova data no calendário semanal, a que se designou (quinta-festa), uma espécie de começo antecipado do fim-de-semana, despejando-se no organismo quantidades excessivas de bebidas alcoólicas.

A própria indústria de bebidas alcoólicas continuar a adoptar métodos mais sensíveis para estimular e facilitar o consumo do seu produto. Contrariamente aos anos das décadas de 80 e 90, actualmente, a cerveja revolucionou a sua qualidade e quantidade, já existem as famosas “saca fácil” para não criar dificuldades a quem queira beber rápido, onde quer que esteja, sem no entanto preocupar-se com chave alguma, ou ser forçado a utilizar os dentes, tal como muitos o fazem para abrir a garrafa.

Quando era criança e mesmo depois da minha fase de adolescente, tínhamos a convicção de que o vinho e o whisky, eram bebidas muito fortes, destinadas aos adultos, ou seja, aos pais. Hoje, vê-se jovens de tenra idade, sem preconceitos, sentado ou de pé, em bares ou discotecas, hotéis ou barracas, na rua ou na escola, em casa ou na praia, de noite ou de dia, ou seja, onde quer que estejam, abrindo com muito prazer garrafas de bebidas alcoólicas, empurrando para o fundo do estômago o seu líquido. Esta aventura, já é notável em crianças de 14 anos, que dormem embriagadas e acordam ressacadas, rapazes e meninas, estas últimas, frequentemente aproveitadas para satisfação de apetites sexuais de homens adultos, devido a sua vulnerabilidade.

As vezes, quando não viajamos, quando ficamos presos a nossa zona de jurisdição, fica-se com a impressão de que aqui, as coisas estão piores, mas basta marcar uma viagem e conhecer outras regiões deste imenso país, para constatar que a realidade é a mesma.

Curiosamente, a minha preocupação, repousa no facto de não haver progressos nos hábitos de leitura, os jovens continuam a ler pouco e alguns, portanto a maioria, não lê mesmo.

Um dos aspectos que mais me incomoda e penso que isso é extremamente inadmissível, assenta no facto de haver jovens quer estudantes do ensino médio, quer universitários, que nunca tiveram a coragem moral para ler pelo menos uma só obra literária, mas gabam-se pelos níveis académicos que ostentam. Quando são chamados a participar numa conferência, debate, mesa redonda, palestra, etc., os mais fraquinhos fogem com vários pretextos, os mais corajosos aceitam, mas ficam limitados, não sabem as vezes exprimir-se, têm receio de falar a vontade, interpretam os temas de forma errónea, em suma, “dão bandeira”.
Hábitos de leitura precisam-se, porque contribuem bastante para a formação de mentes brilhantes, tendo em conta o valor da literatura no processo de transformação das sociedades.

Os desafios no campo académico, exigem conhecimentos amplos e diversificados, sobre temas de cariz científicos em várias áreas do saber, pelo que se torna imprescindível contrair o matrimónio com a literatura, pois nem tudo se apreende na escola e os livros são provas evidentes disso, eles carregam e transmitem-nos conceitos, experiências, noções, etc., sobre a vida na esteira social, económica, cultural e política.

Com base nisso, sugiro que cada jovem deve sentir-se um factor motivador do seu próximo, aconselhando para que se abram as portas do mundo da leitura, onde o saber não ocupa lugar.

A responsabilidade é de todos, da família em particular, da escola, das igrejas, das organizações governamentais e não governamentais, dos meios de comunicação social, longe de se atribuir especificamente ao Estado, visando garantir mudanças de mentalidades perante o fenómeno descrito.
Eu acredito na mudança, somos capazes, pelo que devemos agora começar a fazer mais, deixar as teorias e munir-se de acções práticas.

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