LEVO ATRÁS DIRIGENTES ANALFABETOS

O relevante e histórico acto de proclamação da independência da República de Angola, aconteceu numa terça-feira, 11 de Novembro de 1975, depois de vários séculos de colonização. A Nação herdou parte do património físico do então regime colonial português, desde infra-estruturas sociais, veículos, comboios, embarcações de pequeno e grande porte, etc., embora grande parte do qual foi destruído durante a luta pela liberdade e auto-determinação do povo angolano.
Por razões alheias a minha vontade, só cheguei ao mundo dos vivos seis anos depois da independência nacional, um atraso cuja culpa recai aos meus defuntos pais, os quais se uniram apenas em 1979, ano em que morreu o saudoso Camarada Presidente António Agostinho Neto, portanto, não o conheci, mas a história se encarregou de me informar quem era e como era o grande nacionalista.

Desde a independência aos dias que decorrem, são transcorridos quase 43 anos, com o país a atravessar momentos ímpares da sua história, alguns saudáveis de serem recordados e outros jamais aconselháveis de se imaginar, infelizmente impossíveis de serem deletados da nossa memória, onde permanecem protegidos em zonas indestrutíveis, excepto se ocorrer um eventual ataque de amnésia ou se a morte se encarregar de silenciar-nos para sempre, não nos safaremos.

Até 1992, viveram-se os anos do inesquecível regime de partido único, o MPLA, do qual também sou militante, actualmente no passivo, devido às minhas funções de agente de autoridade, por força determinante da Constituição da República de Angola.

Foi durante o regime de partido único, quiçá em 1979, que o finado nacionalista Manuel Pedro Pacavira, era Ministro dos Transportes da República Popular de Angola e a ETP (Empresa de Transportes Públicos), exercia um papel fundamental no processo de desenvolvimento do país, assumindo a transportação de pessoas e bens, quer a nível urbano, suburbano e até mesmo inter-provincial.
Com o nascimento da ETP e sendo Ministro dos Transportes, Manuel Pedro Pacavira, o povo, inventou logo uma ligação, na sua criatividade típica de “muangolê”, e rapidamente espalhou-se na boca das pessoas, nos bares, nos cafés, nos restaurantes, nas praças, nas lojas do comércio interno, nas padarias, nas escolas, nos escritórios, nos musseques, nos aeroportos e portos, etc., a ideia de que ETP, significava (Empresa do Ti Pacavira)!

A criatividade deste povo, do qual me orgulho pertencer, nunca esteve atrás dos acontecimentos. O governo do partido único depois de proceder a aquisição de meios de transportes que foram atribuídos à alguns dirigentes importantes do aparelho do Estado e não só, foi surpreendido com insultos. Os veículos eram de marca LADA, verdadeiros carros de luxo na época, para um país que acabava de se libertar da opressão colonial.

A entidade a quem havia sido confiada a missão de aquisição/compra de veículos, estando no país de origem/fabrico, depois de avaliar os preços e as qualidades de todas as marcas, com o fito de aprisionar em seu bolso alguns trocos/comissão, decidiu optar pela marca LADA, pois, em conversa com o empresário da marca, referiu-se em dado momento nos seguintes termos: (...aquele mesmo, lá dá), portanto, a marca tinha outro nome, mas logo baptizou-se por LADA e a frota foi trazida para Angola.

Uma vez que a FNLA e UNITA, lutavam com o objetivo de afastar o MPLA do poder, por razões de discordarem sobre a liderança do país depois das “makas” supostamente indevidamente resolvidas, desrespeitadas a luz dos Acordos de Alvor, políticos da oposição ao partido único, inventaram que LADA, significava (Levo Atrás Dirigentes Analfabetos). Ora, bem, instalou-se “prubulema” grande, porque haviam dirigentes importantes que tinham recebido os carros da referida marca, por inerência de funções/cargos no partido, na DISA e noutros organismos importantes, os quais ferviam como se de uma panela a pressão a ferver feijão duro se tratasse.

Alguns oficiais da DISA, zangados, procuravam formas de retaliar tamanho atrevimento dos mentores deste insulto, mas eis que determinados políticos, rapidamente tomaram a decisão de se evitarem situações que culminassem em banho de sangue ou hematomas decorrentes de previsíveis rixas, hoje conhecidas por “bilo” no linguajar do meu povo.

O país era uma potência na produção e exportação de café, em cujas fazendas de produção, meu falecido pai, José António Vicente “Didila”, também emprestou a sua força, com prelúdio na época colonial, tendo inclusive ripostado com agressão física, a provocação verbal de um homem branco, seu patrão, durante uma sessão de colheita, numa fazenda localizada em arredores da sua aldeia natal, Mulengo, menos de 18 Km da vila de Bolongongo, Cuanza-Norte, acusado de ter colhido café não maduro, era duro.

Com o dinheiro das exportações do café, não haviam problemas em adquirir-se novas frotas de veículos para os dirigentes do país, daí que surgem então os carros de marca NIVA. Entretanto, quadros inteligentes e dirigentes do MPLA, decidiram jogar pela antecipação, procurando já atribuir um significado que ofuscasse um previsível insulto da oposição que não aplacava nesta senda.

Contudo, NIVA vem dar resposta aos insultos. Se LADA era entendido pejorativamente como sendo (Levo Atrás Dirigentes Analfabetos), já o NIVA correspondia o seguinte: (Não Importa, Vamos Alfabetiza-los).

Na senda de se diversificar a economia do país, o que já era feito há muitos anos, mas que só agora ganhou muita fama e renome, sendo falada na boca de gente dos mais distintos extractos sociais, residentes nas grandes urbes do país e nos mais recônditos espaços geográficos de Angola, incluindo Macacala, algures em Kikiemba, região de Bolongongo, talvez devido à gravidez que gerou a crise, o governo decidiu importar camiões para transporte de mercadorias do campo para a cidade e vice-versa, dando consistência e facilitação ao processo de livre circulação de pessoas e bens. Desta vez, chegaram os veículos de marca IFA, não importa em que ano, porque apesar de ter estudado história durante o ensino médio, não me licenciei nesta vertente, portanto deixo isso aos mais devotados na matéria.

A oposição, através de seus responsáveis/militantes e simpatizantes, voltou a insultar, alegando que IFA, significava (Ides Fatigar Angola), pois por azar ou coincidência, eram/são carros cujos sistemas de travões funcionam a ar, supostamente não tão fiáveis e por conseguinte estiveram na base de inúmeros acidentes rodoviários que levaram aos cemitérios muita gente. Eu, ainda “candengue”, assisti alguns funerais de vítimas destes sinistros, mas há que se reconhecer também que IFA, ajudou imenso o desenvolvimento do país, aliás ainda ajudam até hoje, visto que no Cuanza-Norte, por exemplo, há uma comuna onde a transportação de pessoas e bens só se processa com recurso a dois camiões desta marca, devido ao diabético estado da estrada, onde veículos de outras marcas, por fraca potência e receio de seus proprietários, não aceitam circular, refiro-me a comuna de Samba-Lucala.

A história do meu país tem páginas interessantes, as quais devem ser escritas e recordadas, para que delas se tirem ilações sobre os antecedentes, quando pretendemos analisar factos actuais e perspectivar o futuro. Voltarei a escrever...

Bom começo antecipado de mais uma semana de trabalho, o país faz-se trabalhando a sério, não fingindo ou valendo-se ser importante com os galões no ombro.

Luanda, 28-01-2018.







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